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Forró continua sendo querido, mas começa a ficar sumido

Gabriel Carvalho*

O São João de 2022 bateu todos os recordes imagináveis de público, de shows e de municípios fazendo a festa, principalmente na Bahia, que pode reivindicar para si um espaço no Guinness Book, o Livro dos Recordes, de maior realizadora de festas juninas simultâneas. Este ano, os festejos no Estado chegou perto de ser realizado nas 417 cidades.

Entretanto, um fenômeno, que já vinha sendo experimentado na última década (2011-2020) acabou se acelerando neste que foi o primeiro ano de São João dos anos 20 do século 21. O forró perdeu muito espaço nos grandes palcos da cidade. Olha que o ritmo tem várias vertentes e subgêneros, mas ainda assim fora minado, sobretudo os de tendência mais tradicional, o chamado Forró Raiz. E isso ocorre justamente no mesmo ano em que recebeu o título de Patrimônio Imaterial da Cultura Brasileira.

As chamadas músicas TikTok invadiram os palcos dos festejos juninos em todo o Estado e muitos forrozeiros acabaram se rendendo ao novo estilo em busca de sobrevivência. Letras de pouca criatividade e muitas batidas misturadas a efeitos sonoros fazem parte desta tendência que chamam de ritmos da atualidade.

Mas não é só tum tum tum que seduz a cabeça dos fãs, mas a combinação dos algoritmos e de uma produção audiovisual seja ela tecnicamente perfeita ou com influenciadores homens e mulheres fazendo as famosas dancinhas usando as canções como pano de fundo. Por trás disso há muito investimento em produção de conteúdo e também no tráfego pago, que como um carteiro leva o material até o público desejado por faixa etária, preferências, gênero, localização, dentre outras métricas.

É como o jabá, elemento presente no século 20, que bombava artistas e bandas com a execução das músicas nas emissoras de rádio mais populares.

Não se prioriza mais a qualidade musical, mas a quantidade de “sucessos” que os grupos ou cantores solo conseguem fazer ao longo do ano.

Forrozeiros protestam

Em entrevista coletiva no São João da Bahia, no Parque de Exposições, em Salvador, o cantor e sanfoneiro Flávio José manifestou seu descontentamento e disse não saber o que será do São João nos próximos anos. “Os secretários de Cultura deveriam ensinar o que é o São João para as crianças para que elas tenham orgulho de serem nordestinos. Muitas vezes, o contratante manda a gente cantar apenas uma hora para poder seguir com o modismo. Eu faço questão de dizer ao público sempre a verdade”, disse.

Dona de um perfil com quase 2 milhões de seguidores no Instagram, a cantora Walkyria Santos criticou publicamente a chamada Geração TikTok no palco principal de Caruaru, em Pernambuco. “Não vou cantar isso não, pois não sou obrigada por dois motivos: porque não sei dançar e não tenho paciência de aprender essas músicas do TikTok”. Após o breve discurso, a artista foi aplaudida pela multidão que lotava o Parque do Povo.

Com mais de 200 músicas gravadas e muitos sucessos na carreira, o cantor e compositor Petrucio Amorim classifica o momento como delicado. “Quem pauta a música e dita o ritmo é o jovem. A Música Popular Brasileira passou por muitas transformações. Não tenho visto uma preocupação nas letras com a linha poética. São letras fáceis e demasiadamente simples. Mesmo que seja uma música alegre e dançante, ela precisa ter conteúdo”, disse.

Em entrevista ao Podcast Tem Forró na Bahia, o diretor musical do Grupo Mastruz com Leite, Ferreira Filho, falou da evolução do forró sob o ponto de vista estético ao longo do tempo e também de mudanças na questão musical. “O forró saiu do figurino de vaqueiro e passou a usar mais coisas da atualidade. As músicas passaram de dois para três acordes e o romantismo foi evidenciado”, disse.

No entanto, ele chama a atenção para algumas armadilhas, sobretudo para bandas e artistas consolidados. “Existe uma frase que diz: se adequando ao mercado, mas eu acho isso um risco muito grande. Não dá para mudar completamente de estilo. Isso é caminho sem volta. Você pode se atualizar, mas se manter ao seu estilo para manter o seu público”, completa.

Ferreira Filho lembra que o forró sempre teve dificuldade no Sul e no Sudeste do Brasil, mas que os investimentos em comunicação realizados pelo empresário Emanoel Gurgel nos anos 90 e 2000 ajudaram bastante, assim como artistas como Wesley Safadão e Xand Avião também contribuíram para que o forró avançasse em outras praças.

O forrozeiro baiano, Del Feliz, explica que a internet tem uma função importante, mas que o artista precisa investir na divulgação do trabalho. Tiago Andrade, vocalista do Forró do Ralão, também chama a atenção para a ausência de produção. “Tem forrozeiro que sequer produz um flyer de divulgação”. 

Maurício Cairo, da banda U Tal do Xote, critica a sazonalidade do forró na Bahia. “Somos lembrados no São João e esquecidos no resto ano, embora estejamos trabalhando”.

Eugênio Cerqueira, por sua vez, acredita que a falta de presença na mídia tradicional dificulte o trabalho dos forrozeiros na Bahia. “É preciso que a nossa música toque o ano inteiro. Nosso trabalho é massificado como produto de festa junina. Temos que estar presentes nos eventos junto com outros ritmos. Se misturam no São João, por que não misturar no resto do ano”, disse.

Há uma luz no fim do túnel, mas para isso acontecer é preciso combinar união, profissionalismo e investimento.

 

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